domingo, 13 de fevereiro de 2011

"As privadas dos banheiros modernos saem do chão como a flor branca do nenúfar. O arquiteto faz o impossível para que o corpo esqueça sua miséria e para que o homem ignore o que acontece com os dejetos de suas entranhas quando a água da caixa os leva gorgolejando cano abaixo. Os canos dos esgotos, ainda que seus tentáculos cheguem até nossos apartamentos, são cuidadosamente escondidos de nossos olhares, e nada sabemos acerca dessas invisíveis Venezas de merda sobre as quais estão construídos nossos banheiros, nossos quartos de dormir, nossos salões de festa e nossos parlamentos.
(...)
Não existe nada mais miserável do que um corpo nu sentado na embocadura aberta de um cano de esgoto. Sua alma perdeu a curiosidade de espectadora, sua maledicência, seu orgulho; voltou para o fundo do corpo, para dentro das dobras mais escondidas. Esperava desesperadamente ser chamada de volta."

Milan Kundera ( A insustentável leveza do ser)

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